domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sobre ser uma iceberg humana

A minha cabeça é um tumulto de pensamentos e às vezes eu só consigo dizer de relance uma coisa sobre a qual tem muito mais a ser dito.
Às vezes digo algo que as pessoas podem interpretar de mil maneiras porque é difícil colocar na escrita toda essa montanha de coisas que quero dizer e digo só uma parte. Às vezes minha escrita está para os meus pensamentos como um iceberg está para os olhos humanos: só é visível a ponta. E tem essa massa enorme de coisas por baixo que eu só consigo mostrar um vislumbre e eu sei que está lá, mas só é distinguível pra mim e outras pessoas que talvez estejam acostumadas com a natureza dos icebergs.
Ontem eu disse que para os íntimos eu sou uma bruxa descontrolada e sanguinária, para os distantes uma santa, uma fofa incapaz de ferir uma formiga. E sempre que penso nisso eu lembro dessa música (I'm a bitch, i'm a lover, i'm a child, i'm a mother, i'm a sinner, i'm a saint) e, mais do que isso, lembro de como isso está intimamente ligado com o fato de ser mulher numa sociedade machista.
Assim como a mulher da música (e acho que a Dworkin fala sobre isso), nós mulheres sempre somos interpretadas de maneira a caber em um estereótipo ou de santa, ou de pecadora, ou de bruxa, ou de princesa. Acontece que, como seres humanas, nós não cabemos nesses estereótipos, nós somos muito mais complexas que isso. E isso pode confundir a nós mesmas e aos demais.
Quem nunca ouviu que é louca? Que pra entender a gente precisa de um manual? A mulher dessa música e eu com certeza ouvimos.
E às vezes só nos resta aceitar que, por não nos rendermos a um estereótipo, nós somos os dois extremos e não somos "o meio termo".
Mas a verdade, às vezes fico pensando, é que isso não é loucura nossa, nem uma característica de ter muitos hormônios nem de sermos excêntricas (na verdade, não tem nada de excêntrico nisso, muito pelo contrário). Isso é ser humana. É não ficar calada na hora da raiva e nem por isso deixar de ser gentil e amorosa. É ser inteligente e também vaidosa e gostar de jogar conversa fora sobre bobagem. É ter muita raiva, mas também derreter de amor por causa de um gatinho. É se entristecer com as dores da vida, mas também sorrir por causa dos momentos de alegria.
Às vezes, como a mulher da música, eu vou "odiar de hoje", afinal "as pessoas são tão boas comigo" (principalmente o homem, que tem que ser "forte" pra "aguentar" ela) e eu continuo decepcionando as pessoas por não caber num estereótipo que elas fazem de mim.
Mas por uma rebeldia, uma intuição, por mais que em alguns momentos eu me veja controlada por esses estereótipos, em algum momento eu vou gritar e dizer: quer saber? Eu SOU ASSIM. Eu sou assim e não me envergonho disso.


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