quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Sobre humor e rir das desgraças

  Eu curto aquele humor que chamam de negro (eu chamo de mórbido/sarcasmo) e eu concilio ele com minha militância perfeitamente e acho que aqui nós temos humoristas muito idiotas que acham que esse tipo de humor é o mesmo que ser ofensivo e politicamente incorreto e eu discordo profundamente disso.
  Meu humorista brasileiro favorito, por exemplo, é Machado de Assis (bom, o amor da minha vida é Machado de Assis). Ele representa o meu senso de humor: eu rio da ironia e do absurdo da vida, da morte, da infelicidade, do fato de sermos ruins, do meu niilismo eu gosto do sarcasmo e da ironia.
  Dizem que ele, o Machadinho, se inspirava nos autores ingleses ou norte-americano, não sei qual dos 2 (se alguém souber quem avisar nos comentários que queria ler, pois já li e reli Machado de cabo a rabo). E faz sentido pra mim, pois vejo nos seriados e filmes desses lugares muito desse tipo de humor que eu dificilmente vejo ser bem trabalhado aqui sem descambar pro ofensivo (e bem que mesmo lá direto e reto esse limite é ultrapassado, afinal a linha é tênia~).
  Não to falando isso só por complexo de vira-lata, mas pq cada lugar tem um tipo de humor mesmo, e no caso eu gosto desse. Talvez até por causa do contexto de globalização, enfim.
  Outra coisa que acho que as pessoas aqui não entendem é a diferença entre estereótipo enquanto caricatura e estereótipo enquanto preconceito, coisa que vejo muito usada nesse tipo de humor. Tipo o que faz Zambininha com o estereótipo de ativista, eu acho genial.
  Acho o estereótipo um artifício muito legal no humor, porque, como uma caricatura, permite a gente ver (em proporções absurdas e por isso é engraçado) nossos exageros, nossas falhas, o nosso absurdo.
  Tava assistindo, por exemplo "Don't Trust the B---- in Apartment 23", uma série que tem no netflix e ela faz uso muito desse tipo de humor e de estereótipos. Aliás, qual comédia não faz uso de estereótipos? Mas esse de estereótipos bem negativos. As personagens são bastante babacas e falam coisas absurdas. Tipo o cara que diz pra uma menina que disse sofrer bullying: "que bom pra vc, o bullying ta super na moda agora!". Na narrativa fica explicado que ele é um cara super egoísta e superficial, sem empatia, mas você ri do absurdo que é alguém ser assim e continua sua vida.
  Eu gosto disso, acho consolador pra quem é, pra usar uma expressão que gosto muito de memórias do subsolo: morbidamente consciente. Se você tem muita consciência das coisas, elas te machucam muito, e o humor é uma ótima fuga pra poder rir do que te fere. É como um analgésico: a ferida continua lá, mas por um momento ela para de doer. É um alívio. É mais que um alívio porque, de repente, em vez de doer ela te dá algum prazer.
  Mas tem muita gente que não entende a ironia ou sarcasmo por trás disso, que não consegue rir disso, ou acha que as personagens da ficção tem que ser todas legais, perfeitas e bacanas e por mim ok, também, você ri do que quiser. Mas dizer que é errado já discordo. E sei que muitos dizem: mas se fosse ofensivo pra você, você não riria. Na verdade, eu rio muito de mim mesma. Existe aquela expressão "ainda vamos rir muito disso um dia", é assim que funciona comigo, eu rio de coisas bastante tensas na minha vida, é como consigo lidar.

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