terça-feira, 15 de março de 2011

A extraordinária história da fila que não tinha fim

   Hoje eu decidi (depois de 1 mês procrastinando) dar entrada no meu seguro desemprego. Eu já tinha tentado uma vez em Brasília, mas no dia houve várias peripécias (tipo eu travar meu carro, entrar em desespero porque ia mudar em 3 dias, esperar 1h pelo guincho, o cara do guincho destravar pra mim em 10 segundos) e chegar lá e minha senha ainda ter 90 pessoas na frente. Pois bem, desisti e decidi vir fazer isso aqui em POA. Grande má ideia! Pelo menos em Brasília você não tinha que chegar de madrugada, pelo menos em Brasília você podia pegar uma senha, sair e voltar, pelo menos em Brasília dava pra SENTAR durante a espera.
   Pois bem, descobri por telefone que aqui tinha que chegar antes das 7h (não que lá abra às 7h, abre às 8h mesmo), cheguei de táxi, era umas 6h45, a fila já estava imensa. Lá estou eu, esperando em pé, com uma mala de 3kg nas costas, quando descubro que estou rodeada por 2 fumantes, um na frente e um atrás, que obviamente não pediram licença (e mesmo que pedissem, eu morro de vergonha de dizer não). Veja bem, não é que eu tenha birra com fumantes, é simplesmente o fato de que eu tenho uma séria alergia a cheiros, que me dá enxaqueca e náuses – quando criança uma caixa de giz de cera me fazia vomitar, hoje em dia só os cheiros mais fortes –, pois bem, imagine cigarro que tem aquela bosta de cheiro horrível e ainda por cima tóxico (eu não entendo o que deu na cabeça das pessoas de inventarem de sugar um troço com cheiro de escapamento). Então assim eu estava lá, tentando respirar pela boca e não engasgar, e veio um velho muito animado e desdentado vendendo café. Intimamente eu fiquei muito contente com a oportunidade de tomar café (já que o sono tava me impedindo de ler), porém ao passar por mim ele não pôde evitar de ficar parado comentando uns 5 minutos sobre o meu cabelo e tentando ser engraçado. Isso foi de alguma utilidade, porque, ao vê-lo falar, notei que ele soltava cuspe pra tudo que é lado, inclusive nas tais garrafas térmicas de café, o que me fez voltar atrás na ideia de comprar café dele.
   Então assim estava eu lá, tentando parar de bocejar e pensando que minha vida não podia estar pior, quando minha vizinha da frente da fila começa a falar comigo, que odeia esse pessoal que trata bicho como filho (coisa que eu faço), que acha nojento gente que dorme com o animal na mesma cama (coisa que eu também faço) e ainda perguntou se eu assisti o último programa do Luciano Huck (coisa que graças a deus eu não faço). A mulher falava tanto sem eu precisar dizer mais que “hum hum” que foi até bom, me distraí a ponto de esquecer nossas desavenças nunca declaradas, principalmente quando ela contou ser forasteira como eu e começou a reclamar de como aqui é diferente. Mais pra frente até senti muita falta dela.
Deu umas 8h e a fila começou a andar lentamente, peguei minha pasta rosa (comprada especialmente para isso e apelidada por mim de “pastinha do desemprego”, onde fui guardando todos os documentos, cópias e coisas necessárias para dar entrada no seguro)... quando olho dentro da pasta, noto que uma coisa realmente importante está faltando: minha carteira de trabalho. Seja por que inferno de motivo, eu troquei apenas ela de pasta no meio da viagem – coisa que eu nunca irei me perdoar, estava tão confiante da minha capacidade de organização que nem verifiquei isso. Ok, começo a ligar pro Eros desesperada, enquanto isso vou vendo aquele mundo de gente entrando na minha frente e o meu lugar na fila tão arduamente guardado indo embora.... Liguei pro Eros, ele ficou de trazer, mas o porteiro não me deixava entrar sem a bosta da carteira, mesmo eu dizendo que meu marido já vinha trazer, que eu esperei tanto na fila, não fazia sentido perder meu lugar por isso. Pois bem, só quando eu vi mais umas 5 pessoas entrando na minha frente, a fila terminando e eu quase chorando, me veio a ideia de esbravejar e comentar em voz alta “como eu odeio essa droga de cidade”. Foi como dizer abre-te Sésamo, pois, como bom gaúcho, o porteiro não quis me dar motivos para achar Porto Alegre um lugar ruim e me deixou entrar no mesmo instante. Maravilha (mas mesmo assim, várias pessoas estavam na minha frente e eu como boa idiota que sou não fui atrás da moça da minha frente reivindicar meu lugar muito merecido na fila – isso porque eu tenho um cabelo que não dá margens de dúvida pra ninguém de que eu estava lá)! Então lá fiquei eu entre duas moças com cara de curitibana aguada (daquelas que são até simpáticas, mas muito insossas), o Eros me trouxe a carteira (e nesse ínterim a mulher que estava antes na minha frente ainda não tinha chegado nem perto de ser atendida), achei um cafezinho lá dentro, tomei e consegui retomar a leitura.
   Em determinado momento nesta fila, notei que era só mais uma fila para pegar uma senha para outra fila. E esta fila era tão lenta quanto a anterior (ai que legal!). Isso já era 9h. Mais uma hora se passou e eu consegui finalmente chegar no final dessa fila, conversei com minha ex-parceira de fila e por ela descobri que minha senha era pra ter sido 22, mas agora ia ser 34, então cheguei lá toda contente, com os documentos devidamente organizados, lisinhos, quando a mulher conta meus meses de trabalho e fica lá devaneando se eram suficientes para dar entrada no seguro desemprego. Foi muito divertida essa parte. Ela então sumiu lá para dentro, enquanto isso a senha 34, 35, 36, 37 (parece pouco, mas levava uma eternidade cada atendimento) ia pra outras pessoas, então ela voltou com um sorriso e disse: ah, dá sim! Melhor confirmar, né? Vai que você fica um tempão lá sentada esperando ser atendida e não dá certo??? Eu só consegui responder mentalmente: amiga, eu esperei 3 horas e meia EM PÉ, você acha que seria tortura nessa altura do campeonato eu esperar sentada? Quer dizer, mesmo que desse errado, eu sentaria numa cadeira durante pelo menos 1h só porque eu já não consigo mais ficar em pé, só por isso.
   Lá fui eu, com a senha 38, esperar numa fila para conseguir uma vaga numa cadeira (mas essa eu furei, também, não sou tão certinha a esse ponto de babaquice) e depois de mais 1h30 sentada consegui finalmente ser atendida, fui andando aos pulinhos (porque descobri que minha sola do pé tinha sido arruinada e não conseguia mais ficar em pé) e dar entrada no meu seguro.

   Mas tudo isso podia ter tornado meu dia muito trágico, se não tivesse um final feliz que foi assim:
   Eu decidi passear no centro, já que estava lá, para fazer compras do que precisava pra casa (sim, mesmo com o pé doendo e corcunda com minha mala de 3kg), e nisso uma senhora passou por mim, muito gaúcha, com aquele r longo e vibrante que os italianos de São Paulo também têm – e que talvez por isso me é simpático, porque lembra minha finada vó – e comentou: “guria, mas que cabelo lindo, bah, adorei seu cabelo!”, e se tivesse ficado só por isso, só isso não teria feito meu dia valer. O que valeu foi que, num dado momento, ela perguntou se meu cabelo não ficava “ressequido”, ao que eu nem precisei responder, ela passou a mão no meu cabelo e disse: “pior que não!”. E sim, isso sim foi tão bom de ouvir, que meu cabelo colorido não é “ressequido”, isso valeu meu dia.

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