quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Livros, leitores e imagens

Que ideia você faz do que é um leitor, do que é um livro? Desenhe no paint, reflita, depois volte aqui.
Eu recém-li o livro Como um romance do Pennac e isso começou a me preocupar com muita frequência. Porque a imagem que envolve os livros não é nem um pouco positiva e isso é em boa parte o motivo das pessoas não lerem, já pensou nisso? Pois veja a imagem a seguir:



Essa é a imagem que as pessoas, geralmente, têm dos livros e dos leitores. Ler torna as pessoas afetadas, sérias, sem nenhuma sensualidade ou bom-humor de verdade. Meu ex-namorado chegou a ficar surpreso quando descobriu que eu, a menina que escrevia o Filosofia Crônica dava e gostava de dar.
O senso-comum (o meu adorado, -not, senso comum) diz que 1- ler causa ressecamento vaginal. E que ler é coisas pra pessoas não-humanas, superiores, mas não humanas.
Acho que muito desse conceito vem de um tempo em que a moral e os bons-costumes ditavam as regras e que os ricos deviam ser bem educados e ter grandes bibliotecas enquanto a massa pobre era só sexo, drogas e muito trabalho nas minas. E os pobres não tinham moral, nem bons costumes como os imponentes ricos. É quase uma distinção entre funk e música clássica. Um é sexo hot hot e o outro... enlevação, coisas sublimes (como se sexo não pudesse ser sublime também – mas é, não naquela época).
Mas, quero dizer... quem disse que música clássica é só sublime e superior? Ou melhor, que os livros são só superiores, não falam da gente nem da nossa vida, quer dizer, não fazem parte da nossa vida?
Quem foi que disse que livros são chatos? Eu (Pennac primeiro) respondo: nossos educadores (pais e professores). Quando falavam pra gente ler, dificilmente era algo como: lê esse livro, é mó legal! Como falariam de uma novela, de um filme, seja o que for. Não, eles sempre falam: livros são superiores, te dão super-poderes, você é OBRIGADO a ler isso porque isso é muito bom pra você (bom no sentido educativo, quase sempre). Se você achar difícil é porque o livro é superior à você e você não é feito pros livros. Motivo pelo qual todo leitor morre na praia porque quando é que no começo das nossas leituras nós conseguimos entender tudo o que está escrito? Nunca! Acredite, nem eu nem ninguém entende tudo 100% na primeira folheada. Não porque livros são mais difíceis, mas porque escrita é código e ao ler nós decodificamos. Não é como ver uma imagem, imagem não tem códigos, imagem é como a vida. Mas leitura exige interpretar um código pra depois entender a imagem. Exige concentração e costume. E, claro, a gente lê o tempo todo, mesmo assim. Quem deixou de usar MSN porque as pessoas escreviam em vez de falar e ler é muito difícil? Ninguém! Quando a gente acostuma a ler e escrever, ambas as coisas ficam fáceis e é isso mesmo nos casos dos livros: ler é uma questão de costume.
Eu não sou superior a ninguém porque gosto de ler, mas tive, primeiramente, a sorte de ter tido um contato mais positivo com o livro que me permitiu me acostumar e me deu o hábito. Ser leitor é quase uma loteria, é preciso ter sorte pra ter um contato positivo com os livros, na maioria das vezes as pessoas não têm essa sorte. O que explica o fato dos leitores reforçarem tanto essa ideia de que leitura é coisa de gente superior. Óbvio que pra eles essa imagem é ótima! Mas é uma questão de sorte, como nascer na cidade grande e ter muito dinheiro ou no sertão do Ceará sem comida. É, simplesmente, uma questão de sorte! Mas da mesma forma, os ricos vão dar a entender que têm essa boa vida porque são superiores aos pobres, não porque tiveram sorte.
E continuando na mesma comparação, eu digo: o que você prefere, ser rico ou ser pobre? Pois é, um leitor, da mesma forma que um rico em relação a um pobre, tem acesso a algumas coisas que um não-leitor não tem. Mas esse não é o motivo pelo qual nos tornamos leitores. Como eu disse ali em cima, não é porque os livros são educativos que lemos (pelo contrário, quando eles se apresentam como educativos é que NÃO lemos!), a gente leu porque teve sorte e gostou, porque ele surgiu na nossa vida relacionado com o gosto e não com a obrigação.
Sabe como eu aprendi a ler? Porque minha mãe contava lindas histórias de príncipes e princesas que usavam lindos vestidos vitorianos. Eu adorava! E depois, achamos na nossa biblioteca livros dessa mesma época e que também contavam histórias de amor! Oras, acha que eu não fiquei doida pra ler? E eram livros nada fáceis pra uma criança. Sabe Dostoievski, Machado de Assis, Shakespeare? Eu li na 5ª série. Mas li porque o “assunto” era do meu gosto, não porque disseram que se eu não lesse eu era uma idiota e era OBRIGADA a ler (se assim fosse eu odiaria, com certeza!). Eu li e amei, mesmo não entendendo boa parte da história. Eu pulava partes, eu ficava confusa em outras, mas não me envergonhava disso, pulava o que não entendia, partia pra parte mais legal, só isso. Claro, dado a temática e ingenuidade, eu adorava José de Alencar muito mais que Machado.
Sabe quando eu quase parei de ler? Depois da faculdade de Letras. Depois que eu vi que os livros eram mágicos, lindos, perfeitos, difíceis e superiores. Acabou a graça, o hobbie, surgiu a obrigação. Obrigação é lavar a louça, não se divertir! LIVROS SÃO DIVERTIDOS. Falta as pessoas frisarem isso!
Livros são divertidos. Assim como a novela, o desenho animado, os filmes. É uma linguagem diferente, por isso é uma experiência diferente de todas essas outras. É como ouvir música, dá pra comparar ouvir música com outra coisa? Dançar com outra coisa? Não dá.
Livros você pode ler no consultório do dentista, você pode ler no ônibus, na privada. Eles te empolgam, você para e começa onde preferir, quando preferir. Eu estou lendo Jane Austen que me fez lembrar o quanto adoro romances, roupas enormes, emperequetadas e histórias de amor antiga. Mas você pode preferir outra coisa, tem aí um Bukowski que é tão romântico quanto um mendigo morando no bueiro e é super divertido. Faz você aprender mais sobre você, sobre o mundo. Faz você sair do seu umbiguinho aprendendo mais sobre ele. Mas não é pra aprender que a gente lê. É a conseqüência – um resultado muito, enormemente positivo que infelizmente a maioria dos filmes, novelas, músicas não dá. Não to dizendo aqui pra não assistir novela ou filme clichê. Clichês tem lá o seu lado divertido. Tem livros assim e eu aprendi com eles, se não tivesse acesso TAMBÉM a essas coisas eu seria metade tapada do mesmo jeito. Tem gente tão rebuscada na sua “inteligência” que fica metade tapada (pessoas essas que geralmente a gente chama de intelectuais que leem os livros, pessoas da foto lá de cima – o que é uma imagem deturpada, vou te dizer, como dizer que todo gay é travesti).
A mensagem que eu quero passar para os que não leem e gostariam de ler é: leiam, vocês não sabem o que estão perdendo, leiam o que gostam, mas não se obriguem, se divirtam.
Próximo post eu falo sobre os “Direitos do leitor” que o Pennac escreveu. Acho bem válido.

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